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  • Contato Brasil, 02 de maio de 2024 22:46:41
Humberto Azevedo
  • 29/07/2023 16h22

    Recuperação da confiança na Presidência da República, polarização persistente, católicos x protestantes, novas adesões ao lulismo e treta nas esquerdas

    Congressuanas e Esplanadumas, coluna de notas entre os dias 17 e 20 de julho

    Após quatro anos em que a Presidência da República teve um ocupante que testou todos os limites civilizatórios e instituições democráticas, de Direito, de Estado e republicanas, os brasileiros voltam a confiar na instituição que preside todos nós

    Recuperação da confiança

    Medido pelo Ibope, atual IPEC, desde 2009, a confiança dos brasileiros na instituição da Presidência da República, em 2023, alcançou o seu maior nível desde 2012 quando o país era presidido pela ex-presidenta Dilma Rousseff (PT). Comparado a última gestão do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PSL/PL), o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inspira mais confiança também que a do antecessor.

     

    Litigância persiste

    Se por uma vez Lula consegue inspirar mais confiança que Bolsonaro, nem tudo são flores. O cenário de litigância entre brasileiros que optaram seja por Lula, seja por Bolsonaro, ainda persiste. É o que diz também a nova medição do IPEC sobre o Índice de Confiança Social. Os brasileiros mais pobres e concentrados na região Nordeste são os que têm mais confiança em Lula. Já os brasileiros mais ricos, aqueles pertencentes às classes A e B, e os religiosos de fé cristã pentecostal e neopentecostal - conhecidos popularmente como “crentes” na forma antiga e atualmente como “evangélicos” - são os que apresentam menos confiança no novo velho presidente brasileiro.

     

    Católicos vs protestantes

    O confronto iniciado nos idos do século XVII graças à reforma protestante iniciada pelo monge Martinho Lutero e que causou o êxodo de protestantes a Nova Inglaterra (hoje Estados Unidos) e mais tarde, já no século 20, a independência da Irlanda - de maioria católica - do Reino Unido, encontrou um novo eco de disputa em solo brasileiro. Se nas eleições de 2022, a maioria dos católicos optou por Lula muito por conta da aproximação que vários líderes protestantes, crentes ou evangélicos tinham com Bolsonaro, o cenário atual não mudou. Em 2022, o índice de confiança dos católicos no então presidente da República - na escala de zero a cem - era 36. Com Lula, esse índice saltou para 45. Já entre o público protestante, crente ou evangélico, o índice com Bolsonaro, em 2022, era de 52, e com Lula caiu para 43.

     

    Fez o L

    Após ter causado revolta no seio bolsonarista ao fazer o “L” ao lado de ministros do atual governo, o deputado Yury Paredão (PL-CE) teve anunciada a sua expulsão da legenda do ex-presidente da República. Com a decisão unilateral tomada por Valdemar da Costa Neto, presidente nacional dos antigos liberais - hoje reduto de extremistas e ultra-radicais direitistas, Paredão deixará de ser colega de parlamentares bolsonaristas e ficará livre para exercer o seu mandato de maneira independente (sem partido), ou filiado a alguma outra legenda - se assim ele quiser. O “L” feito por Paredão em referência ao seu apoio ao governo do presidente Lula ocorreu na oportunidade em que participou da inauguração de um dos trechos da transposição do rio São Francisco, durante o cumprimento de uma agenda.

     

    Embate no campo esquerdista

    Se por um lado a gestão atual de Lula caminha para direcionar o novo governo a caminho do centro, seja pela adesão de ex-apoiadores de Bolsonaro, ou pela formação da frente ampla que o ajudou a se eleger em 2022, o presidente brasileiro voltou a entrar em embate com o presidente chileno, Gabriel Boric, representante da nova esquerda na América Latina. Se meses atrás entraram em rota de colisão por conta da Venezuela, agora a motivação foi a Rússia do direitista Vladimir Putin. Lula, que tenta acabar com a guerra na Ucrânia, sem estremecer os laços com Moscou, viu um Boric chamado por ele equivocadamente de “jovem apressado” exigir o fim da guerra “comprando” apenas a versão apresentada ao mundo pelos Estados Unidos sem considerar os abusos que o regime ucraniano promoveu contra as populações pró-russas em seu território nos anos anteriores à guerra iniciada em fevereiro de 2022.

     

    Furdúncio

    Os atritos vistos entre Lula e Boric apontam que o cenário mundial mudou. O mundo em que as velhas esquerdas se desenvolveu não é mais aquele que existia há 40 anos, mas também está longe para ser o novo mundo que a nova esquerda criada no início deste século 21 acredita existir. O imperialismo já não é mais o mesmo, mas isso não significa que não haja mais imperialismo. As lutas de classes não são mais as mesmas da época do chão de fábrica que há 40, ou 50 anos; mas isso não significa que a luta de classes foi extirpada. Pelo contrário, houve um aumento enorme em termos da sua complexidade. Vide os autônomos trabalhadores de aplicativos precarizados que se consideram “empreendedores”. Foi em meio a esta imensa confusão que fez a velha esquerda se perder e a nova esquerda se achar, apenas nas causas do identitarismo, é que permitiu e ou resultou no avanço da extrema-direita bagunçando tudo e colocando democracias até consolidadas em risco.

     

    Sem nova liderança

    Aos 77 anos, ser eleito pela terceira vez, ao longo de 20 anos, para o cargo mais importante da política é fato único que dificilmente será repetido por alguém no país. Mas a missão de Lula em seu terceiro mandato de reconstruir e unir o país não foi à toa. Lula sempre eclipsou o surgimento de novas lideranças à esquerda e, talvez, após o final do seu governo que pode ser em 2026, ou em 2030, a depender das suas condições de saúde e da retomada da economia, poderá levar à esquerda a ficar anos / décadas sem conseguir se encontrar e se unir em torno de um nome, que nos últimos 30 anos desembocaram sempre em Lula. É possível que a depender do sucesso econômico da terceira gestão de Lula, o país caminhe na próxima década nas mãos pelo centro, com a esquerda tentando encontrar uma nova liderança em meio aos quiprocós ou tretas entre aqueles que compõem as fileiras da nova e velha esquerda.

     

    Nova geopolítica

    E tudo isso em meio a um mundo que vem surgindo uma nova geopolítica em que se abundam especulações aos quais que mundo teremos. Sem contar que as mudanças climáticas pode estar nos apresentando cenários de ficção científica que faziam sucesso nos anos 80: como, por exemplo, a corrida pela água potável. A previsão é que a região Sul do país (mais Uruguai, Argentina e Chile) venha a conviver constantemente com a escassez de recursos hídricos num momento decisivo em que decidimos se vamos manter em pé a floresta amazônica e se vamos preservar o cerrado.


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