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  • Contato Brasil, 03 de maio de 2024 00:10:33
Humberto Azevedo
  • 15/07/2023 11h07

    Uma semana depois de surfar nas ondas do sucesso, Arthur Lira sai de “férias” em meio às enchentes que alagaram sua terra e ataca mídia investigativa

    Congressuanas e Esplanadumas, coluna de notas dos bastidores políticos de Brasília entre os dias 10 e 13 de julho de 2023

    A imagem que marcou a semana nas redes sociais

    “Farra sem limites”

    Após o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), sair como um dos grandes vitoriosos da aprovação da reforma tributária ocorrida na última semana, o retrato do ex-todo-super-poderoso que controlava - até 2022 - as emendas de relator ao Orçamento Geral da União, dispositivo que ficou conhecido como “orçamento secreto”, não ficou tão boa assim nesta semana. Motivo: a sua ida em viagem de férias, sem a Câmara estar de férias, ao cruzeiro marítimo pelos mares do Caribe do cantor cearense e seu amigo pessoal, Wesley Safadão, intitulado como “farra sem limites” - que é uma das músicas mais tocadas pelo artista forrozeiro.

     

    Debaixo d’água

    A ida de Lira ao cruzeiro do (amigo) Safadão também não pegou muito bem também em virtude de que a viagem de férias, sem a Casa que ele preside esteja de férias, tenha ocorrido num momento em que diversas cidades alagoanas foram afligidas por enchentes que desalojaram quase 24 mil pessoas e que até quarta-feira, 12 de julho, ainda mantinham mais de sete mil alagoanos desabrigados. Ao som do amigo Safadão, Lira parece ter-se desligado das notícias que ocorriam no Brasil e sequer utilizou o seu perfil no twitter até a tarde desta última quinta-feira, 13 de julho, para emitir uma nota de solidariedade ao seu povo que o elegeu e que vem atravessando um momento de dor pela perda de uma vida causada pela tragédia socioambiental em decorrência das mudanças climáticas.

     

    Ataque a mídia

    Além das férias tiradas sem estar em férias e da falta de empatia com o seu povo que o elegeu, Arthur Lira aproveitou o momento de estar na crista da onda na última semana como um dos maiores vitoriosos na aprovação do texto da reforma tributária aprovado pela Câmara para acionar o Poder Judiciário com vista a processar alguns veículos de imprensa como o ICL Notícias, Agência Pública e Congresso em Foco em ação que pedia sigilo total e a retirada de matérias publicadas a partir de entrevistas com sua ex-esposa, Jullyene Lins, que o acusa de ter cometido violência sexual, assédio moral e de o envolvimento em crimes de colarinho branco em que teria enriquecido ilicitamente. Na sexta, 14 de julho, o Congresso em Foco foi obrigado pela justiça em retirar uma entrevista com a ex-mulher Lira do ar.

     

    Lawfare

    A iniciativa adotada por Lira contra os veículos de imprensa que produzem bons materiais investigativos foi considerada por diversos professores de Direito e juristas, em especial, como típica prática de lawfare com objetivo de tentar cercear e censurar as atividades jornalísticas dos dois veículos. Lawfare é a estratégia de se usar a lei, ou um conjunto de leis, com objetivo político para enfraquecer um concorrente, oponente, ou empresa visando o seu estrangulamento financeiro a partir de despesas jurídicas.

     

    Tiro no pé

    O acionamento judicial por parte de Lira contra os veículos, muito combativos em defesa de uma maior democratização nas estruturas do país, acabou gerando um efeito reverso negativo à sua imagem. Após a decisão do juiz que deu andamento à ação, mas sem acolher os pedidos de sigilo e de censura-prévia solicitados pelo parlamentar alagoano, bombou nas redes sociais um abaixo-assinado virtual com requisição de CPF que repudiou “veementemente a tentativa do presidente da Câmara, Arthur Lira, de cercear a atividade jornalística do ICL Notícias”. Até a tarde desta quinta-feira, 13 de julho, o referido abaixo-assinado já alcançava mais de 140 mil assinaturas.

     

    De olho

    Quem ficou bem de olho no furdúncio que Arthur Lira se envolveu com boa parte da mídia investigativa foram os parlamentares do “Centrão do B”, também conhecido como o “bloco do Kassab”, que reúne 142 deputados do MDB, PSC, PSD, Podemos e Republicanos. Há quem diga que o imbróglio entre Lira e o banqueiro progressista e ex-Faria Limer, aliado e defensor do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Eduardo Moreira, um dos fundadores do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), que financia o jornalismo promovido pelo instituto, foi boa, muito boa, para o atual primeiro-vice-presidente da Câmara e presidente nacional dos Republicanos, Marcos Pereira (SP), que hoje é um dos principais nomes para ser o novo presidente da Câmara a partir de fevereiro de 2025.

     

    Perdeu Mané II

    Depois de causar espanto e revolta entre milhares de eleitores mais radicalizados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com a frase “perdeu, Mané” dita em Nova Iorque quando participava de um seminário internacional sobre democracia, após o sufrágio brasileiro que elegeu o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, a um militante bolsonarista que tentava intimidá-lo, o ministro da mais alta instância do Poder Judiciário, Luís Roberto Barroso, voltou a causar revolta na base bolsonarista após declarar durante sua participação num Congresso promovido pela União Nacional dos Estudantes (UNE), em Brasília, em que afirmou - após ser vaiado por uma parte da plateia ligada à juventude do Partido Comunista Brasileiro (PCB) - “derrotamos o bolsonarismo”.

     

    Perdeu Mané III

    A fala do ministro, nesta oportunidade, causou espanto não apenas no seio bolsonarista. Diversos políticos do centro e da esquerda reconhecem que Barroso não deveria estar num evento da UNE, com trajes informais como estava - mesmo que sua origem tenha se dado em eventos como esse ao qual ele participou. E muito menos ter afirmado o que afirmou. Em nota, o ministro - que será o próximo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) - disse que sua fala “derrotamos o bolsonarismo” se referia apenas “ao extremismo golpista e violento que se manifestou no 8 de janeiro e que corresponde a uma minoria”. E que “jamais [pretendeu] ofender os 58 milhões de eleitores do ex-presidente nem criticar uma visão de mundo conservadora e democrática, que é perfeitamente legítima”.


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