31 de julho de 2025
Nordeste e Mensalão

Raimundo Gomes de Matos diz que prisão de petistas terá impacto nas eleições

Deputado do PSDB do Ceará argumenta que a popularidade de Dilma Rousseff só é alta por causa de quase R$ 2 bilhões gastos em publicidade

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( Publicada originalmente às 17h 32 do dia 20/11/2013) 

 

(Brasília-DF, 21/11/2013) O deputado Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE) avaliou, em entrevista exclusiva para a reportagem da Política Real, que as prisões dos mensaleiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF)  na Ação Penal (AP) 470, terá impacto nas eleições de 2014. A AP 470, que ficou conhecida como o processo do mensalão, apurou as denúncias de compra de voto de parlamentares por parte do governo federal entre 2003 e 2005.

"É triste a gente ver parlamentares, senadores, lideranças políticas no Brasil fazer críticas ao Judiciário. É triste a gente ver integrantes do PT desqualificar os ministros do Supremo dizendo que não houve nada disso, que não houve fato consumado, concreto, de uma coisa que tem filmagem, e em que se viram o outro com dólar na cueca", falou o deputado, após comentar que a alta popularidade da presidenta Dilma Rousseff constatada pelos institutos de pesquisa só existe por conta dos quase R$ 2 bilhões investidos para publicidade as ações do governo federal.

De acordo com Raimundo Gomes de Matos, a verba de publicidade que o governo da presidenta Dilma já gastou somente neste ano chega a um total de R$ 1,8 bilhão. Ele chama os gastos federais em propaganda de “Programa da Aceleração da Comunicação”, para ironizar uma das principais iniciativas dos governos do PT: O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que oferece bilhões na execução dos mais variados projetos de infraestrutura em aplicação no Brasil. O PAC contempla obras da transposição do Rio São Francisco dentre várias outras.

Dólares na cueca

Quando deu entrevista a Política Real, o tucano cearense provocou, ainda, o conterrâneo José Guimarães (PT-CE), líder do PT na Câmara, que criticou nesta última terça-feira, 19, os ministros do STF por ter condenado, segundo ele, os políticos ligados ao episódio dos "doláres na cueca".

Em 2005, no momento em que o escândalo do mensalão vinha à tona, um assessor do então deputado estadual  José Guimarães, foi flagrado pela Polícia Federal no aeroporto de Fortaleza (CE) com 100 mil dólares acomodados na peça íntima da vestimenta.

Entretanto, o dinheiro encontrado com o então assessor do hoje líder do PT não tinha nenhuma correlação específica com o caso  do mensalão. À época, Guimarães justificou que a dinheirama presa ao corpo do então assessor João Adalberto Vieira da Silva era para evitar assaltos e roubos de um dinheiro arrecadado com a venda de produtos hortigranjeiros.

Propina

Posteriormente, o petista cearense foi inocentado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), que julgou o caso. Para o Ministério Público os valores encontrados com o ex-assessor de José Guimarães era uma propina de uma transação entre um consórcio de energia com o Banco do Nordeste, que envolvia R$ 300 milhões.

"A população deve refletir sobre isso,  se deve manter no governo e no poder um partido que fica mentindo. O ex-presidente Lula disse que era mentira, os ministros disseram que era mentira e os deputados petistas, agora, estão desqualificando o Supremo, dizendo que os ministros erraram. E agora querem, ainda, relaxar as prisões. O que nós precisamos é ter ética na política. Por isso o Congresso Nacional é a instituição mais mal avaliada. E tudo isso por quê? Porque os deputados dizem uma coisa e fazem outra. Assumem compromisso e não cumprem. E isso desmoraliza toda a classe política. Eu creio que a população vai refletir nas próximas eleições", complementou o tucano.

Irmão de Genoíno

José Guimarães é irmão do ex-presidente nacional do PT, José Genoíno, um dos condenados no esquema do mensalão. O STF entendeu que Genoíno praticou corrupção passiva e peculato (desvio de dinheiro público). Na quarta-feira da semana passada, 13, o STF em decisão definitiva, condenou todos os réus acusados no processo do mensalão de terem participado do esquema em que alguns integrantes do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teriam comprado os votos de parlamentares.

A operação ficou conhecida como mensalão após o então líder do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), ter afirmado a existência do esquema. A declaração de Jefferson aconteceu após uma denúncia de que parte das propinas cobradas por diretores dos Correios junto aos contratos de licitação tinham como destino os cofres não oficiais (caixa 2) do PTB.

Em decorrência do julgamento feito pelo STF, os petistas José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares, além do petebista Romeu Queiroz e do ex-tesoureiro do extinto PL (atual PR), Jacinto Lamas, foram apenados por corrupção passiva e peculato e já estão cumprindo as penas no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.

Banco Rural

Os empresários Marcos Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach também foram condenados por corrupção ativa e passiva, além de peculato e também já se encontram presos na penitenciária da Papuda.
Os três empresários eram sócios da empresa SMP&B, utilizada no esquema. A empresa assinava contratos com o governo federal por serviços que não eram prestados.

Assim a SMP&B repassava o dinheiro das falsas prestações de serviços aos deputados da base lulista para votar de acordo com a orientação dos líderes governistas. A ex-presidente do Banco Rural, instituição financeira atualmente em liquidação decretada pelo Banco Central, Kátia Rabelo e a ex-secretária da empresa SMP&B Simone Vasconcelos também foram condenadas por corrupção ativa e peculato e também já se encontram detidas na carceragem do 19º Batalhão da Polícia Militar do Distrito Federal.

De acordo com a sentença proferida pelo STF, o Banco Rural era uma espécie de "lavanderia" do dinheiro público desviado nas operações do mensalão, que remetia os valores para o exterior. Posteriormente, o Banco Rural repatriava os recursos através de novas operações financeiras.

Tudo isso para limpar a origem do dinheiro que alimentava, na boca do caixa, os valores recebidos pelos parlamentares condenados. Nesta semana o STF deverá anunciar as penas dos outros envolvidos no escândalo do mensalão, como o ex-líder e presidente do PTB, Roberto Jefferson, e do ex-líder do PL (atual PR) deputado Valdemar Costa Neto (SP).

(Por Humberto Azevedo, especial para Agência Política Real, com edição de Valdeci Rodrigues)