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Nordestinas
  • 02/04/2019 07h45

    PERSPECTIVA: Roberto Campos Neto, do Banco Central, fala sobre tendências em conferência e diz que tem que ter mais conversa com o Congresso

    Ele também que o setor de financiamento tem que largar as amarras do Governo
    Foto: revista Época

    Campos Neto diz que setor financeiro tem se livrar das amarras do Governo

    ( Publicada originalmente às 21h 45 do dia 01/04/2019) 

    (Brasília-DF, 02/04/2019) O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, falou hoje, 1º à noite na Conferência Anual sobre Macroeconomia e Estratégia, promovida pela Goldman Sachs Brasil, em São Paulo.

    Ele divulgou aos jornalistas uma série de apontamentos sobre sua fala. Ele destacou em um momento que deve haver um diálogo maior com o Congresso.  Ele falou de reformas e disse que · a intermediação financeira no Brasil tem de se libertar das amarras que a prendem ao governo.

     

    Confira a íntegra dos apontamentos:

     

    Boa noite a todos.

     

    Muito obrigado pelo convite e pela oportunidade de trazer a público nossa visão. Vou resumir os progressos na conjuntura econômica, a política monetária e o papel do Banco Central. Vou falar também sobre algumas das novas prioridades da Agenda BC+

     

    . ----------

     

    Cenário global

     

    · Em relação à economia internacional, o cenário permanece desafiador.

     

    · Por um lado, os riscos relacionados a uma desaceleração da economia global, em função de diversas incertezas, se intensificaram.

    § Embora as perspectivas mais favoráveis para as resoluções de disputas comerciais possam oferecer algum suporte para a retomada do crescimento, a desaceleração da economia global tem-se mostrado mais evidente, com indicadores recentes confirmando a moderação da atividade econômica e a redução dos níveis de confiança dos agentes.

     

    · Por outro lado, arrefeceram os riscos associados ao aperto nas condições financeiras globais.

    § Com o balanço de riscos para a atividade alterado substancialmente para baixo, os principais bancos centrais reavaliaram suas intenções de ajustes nas taxas de juros em 2019, alongando o processo de normalização monetária.

     

    · Não obstante tais incertezas, o Brasil apresenta capacidade de absorver um revés no cenário internacional, devido ao seu balanço de pagamentos robusto, à ancoragem das expectativas de inflação e à perspectiva de recuperação econômica.

     

    Cenário Doméstico Inflação e atividade

     

    · A economia brasileira sofreu diversos choques ao longo de 2018. A atuação firme e transparente do Banco Central nos momentos de maior volatilidade ao longo de 2018 foi fundamental para a manutenção da funcionalidade de nossos mercados e amorteceu os impactos desses choques sobre os preços, o que permitiu:

    § a consolidação da inflação em torno da meta e a ancoragem das expectativas de inflação;

    § a consolidação das taxas de juros em níveis historicamente baixos; e

    § a sustentação do processo gradual de recuperação da economia.

     

    · Ao longo dos últimos anos realizamos um trabalho importante de redução da inflação, que havia alcançado 10,7% em 2015. No acumulado em 12 meses, a inflação encontra-se hoje em 3,89%.

     

    · Diversas medidas de inflação subjacente se encontram em níveis apropriados ou confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetá

     

    · Em relação à atividade econômica, os diversos choques que atingiram a economia ao longo de 2018 produziram efeitos que persistem mesmo após cessados seus impactos diretos.

     

    · Os indicadores recentes apontam ritmo de crescimento aquém do esperado. Não obstante, a economia brasileira segue em processo de recuperação gradual.

    § O PIB com ajuste sazonal cresceu 0,1% no último trimestre de 2018 em relação ao trimestre anterior.

    § Em 2018, o PIB acumulou alta de 1,1%, mesma variação registrada em 2017.

     

    · O arrefecimento da atividade no último trimestre do ano passado concorreu para que a projeção de crescimento do PIB em 2019 fosse reduzida de 2,4% para 2,0%, estimativa apresentada na última edição do Relatório Trimestral de Inflação, de março de 2019.

     

    Política Monetária

     

    · É importante mantermos os ganhos recentes alcançados na condução da política monetária, que tem se baseado na cautela, na serenidade e na perseverança.

     

    · Em sua última reunião, em março, o Copom decidiu, por unanimidade, pela manutenção da taxa básica de juros nesse mínimo histórico de 6,50% a.a.

     

    · O cenário básico para a inflação envolve fatores de risco em ambas as direções.

    § Por um lado, o nível de ociosidade elevado pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado.

    § Por outro lado, uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. Esse último risco se intensifica no caso de uma deterioração do cenário externo para economias emergentes.

     

    · O balanço de riscos para a inflação mostra-se simétrico.

     

    · A conjuntura econômica com expectativas de inflação ancoradas, medidas de inflação subjacente em níveis apropriados ou confortáveis, projeções que indicam inflação em direção às metas para 2019 e 2020 e elevado grau de ociosidade na economia prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

     

    · O grau de estímulo adequado depende das condições da conjuntura, em particular, das expectativas de inflação, da capacidade ociosa na economia, do balanço de riscos e das projeções de inflação.

     

    · É importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, com menor grau de incerteza e livre dos efeitos dos diversos choques a que foi submetida no ano passado. Esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo.

     

    · Os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.

     

    · Cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de nosso objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas.

     

    Reformas e ajustes na economia

     

    · A aprovação e a implementação das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia.

     

    · É necessário avançar também nas mudanças que permitam o desenvolvimento de nosso mercado de capitais. Nesse aspecto, as medidas de ajuste fiscal também podem contribuir. Colocar as contas públicas em uma trajetória equilibrada, através de um ajuste fiscal e de uma reestruturação patrimonial, gera efeitos multiplicadores sobre o mercado de capitais, resultando em uma maior diversificação desse mercado e em um maior número de transações.

     

    · A intermediação financeira no Brasil tem de se libertar das amarras que a prendem ao governo.

    § O mercado precisa se libertar da necessidade de financiar o governo e se voltar para o financiamento ao empreendedorismo.

     

    · Acreditamos também que um BC autônomo estaria melhor preparado para consolidar os ganhos recentes e abrir espaço para os novos avanços de que o país tanto precisa.

     

     · Precisamos nos dedicar ao desenho de como será o sistema financeiro no futuro, tendo como foco o papel da evolução tecnológica.

    § Esse processo de inovação se intensificou nos últimos anos com o aumento:

    § Da capacidade de processamento;

    § Da armazenagem de informação;

    § Da organização da informação; e

    § Da interpretação da informação e do uso de dados.

    § Não esquecendo das missões de promover a estabilidade de preços e a solidez do sistema financeiro, é importante a preparação do Banco Central para um futuro tecnológico e inclusivo.

    § Trabalhar na modernização do SFN é fundamental para alcançarmos esses objetivos – simplificando e desburocratizando o acesso aos mercados financeiros para todos e dando um tratamento homogêneo ao capital, independentemente de sua nacionalidade ou se provém de um grande ou de um pequeno investidor.

     

    · Para o sistema financeiro, essa mudança tecnológica significa:

    § Democratizar; Digitalizar; Desburocratizar; e Desmonetizar.

     

    · Precisamos dominar as ferramentas para criar esse futuro:

    § Blockchain; serviços de nuvem (Cloud); Inteligência artificial; e Digitalização.

     

    · Estou convicto de que, com os esforços de todos nós, o BC contribuirá para o desenho de um país melhor, fundado no livre mercado.

     

    Futuro da Agenda BC+

     

    · O Banco Central tem trabalhado numa agenda de reformas estruturais para o sistema financeiro, a já famosa Agenda BC+.

    § Essa é uma agenda dinâmica, aperfeiçoada de modo permanente, cujas ações, conduzidas de modo sinérgico e integrado, contribuem para que o BCB cumpra a sua missão de manter a solidez e a estabilidade do sistema financeiro.

    § Até o momento, o Banco Central concluiu 41 ações no âmbito da Agenda BC+.

    Ø 19 ações foram concluídas em 2016 e 2017.

    Ø 22 ações foram concluídas em 2018.

     

    · É necessário aprofundar a Agenda BC+ para promover um amplo processo de democratização financeira.

    § Essa democratização é fundamental para ampliar o provimento de recursos para o setor produtivo em condições justas e gerar benefícios para todos os brasileiros.

    § Até o presente, a democratização financeira se focou na garantia de acesso a serviços de pagamento e ao mercado de crédito.

    § Vamos avançar em outras dimensões e dar um foco especial ao mercado de capitais. § Vamos eliminar distorções e implementar políticas que melhorem a eficiência de nossos mercados.

     

    · A Agenda BC+ está sendo reavaliada e será ampliada, com a incorporação de novas dimensões:

    § Inclusão: para facilitar o acesso ao mercado a investidores e tomadores, nacionais e estrangeiros, grandes e pequenos.

    § Precificação: para promover a adequada precificação por meio de instrumentos de acesso competitivo aos mercados.

    § Transparência: vamos melhorar a transparência no processo de formação de preços e nas informações de mercado e do Banco Central.

    § Educação financeira: voltada a estimular a participação de todos no mercado e a formação de poupança. · Dentro dessas novas dimensões, estão sendo criados 14 grupos de trabalhos para avaliar mais detidamente cada ponto. · Essas dimensões serão trabalhadas por meio de ações junto a outros órgãos de governo e à sociedade, e também projetos de leis e alterações infralegais, tendo sempre em vistas o objetivo de: § Democratizar; Digitalizar; Desburocratizar; e Desmonetizar.

     

    · Os grupos de trabalho iniciados tratam dos seguintes tópicos:

    § Na dimensão da Inclusão:

    Ø Microcrédito: aumentar a relevância e a penetração do microcrédito no mercado.

    Ø Cooperativismo: expandir o cooperativismo, buscando soluções digitais e ampliando suas modalidades e sua atuação em áreas de baixa bancarização.

    Ø Mercado de capitais: A meta é avançar nas mudanças que permitam o desenvolvimento pleno de nosso mercado de capitais, com base no livre mercado.
     

    · As mudanças nesta área já se iniciaram. A TLP e a mudança de foco do BNDES têm mostrado que, quando o governo abre espaço, a iniciativa privada floresce.

     

    · A literatura demonstra uma clara correlação positiva entre o tamanho do mercado de capitais e o PIB de uma economia. É fundamental promovermos mais avanços.

     

    Ø Conversibilidade: simplificar regras, desburocratizar exigências e facilitar operações no mercado de câmbio, buscando adequar nossas normas para permitir que o Real eventualmente se torne uma moeda conversível que sirva de referência para a região.

     

    § Na dimensão da Precificação:

    Ø Inovações:

    o Pagamentos instantâneos: Importante mecanismo de democratização dos meios de pagamentos. Envolve um conjunto de medidas para criar um sistema de pagamentos instantâneos no Brasil.

    o Open Banking: Estudos para o desenvolvimento de um modelo de Open Banking para

    o Brasil. O objetivo é reduzir as barreiras à entrada e aumentar a competição.

    o Garantias: Desenvolvimento de centrais de garantias operando como mecanismo de diversificação de riscos e oferecendo meios para redução da volatilidade dos mercados.

    o Segurança cibernética: O tema de segurança cibernética é um ponto de atenção e risco em um ambiente financeiro cada vez mais digitalizado. É preciso ter uma política efetiva de segurança cibernética e desenvolver mecanismos de defesa e de minimização de riscos.

     

    Ø Reservas internacionais: Estudos sobre retorno e gestão de reservas e instrumentos de intervenção.

     

    § Na dimensão da Transparência:

     

    Ø Crédito rural: Estudos sobre um novo modelo de fomento à atividade rural. O objetivo é dar foco no pequeno e médio produtor, buscando aumentar a eficiência dos subsídios. Para isso, é preciso explicitar os subsídios que estejam implícitos nessas operações e melhor avaliar sua destinação.

    Ø Mercado imobiliário: Modernizar os mecanismos de captação de recursos destinados à construção civil, melhorando o financiamento, explicitando a Página 10 de 12 toda a sociedade os subsídios e permitindo a ampliação das escolhas dos cidadãos.

    Ø Relacionamento com o Congresso Nacional: Ampliar o relacionamento com o Congresso e estudar formas de tornar quantificável os objetivos e os avanços.

    Ø Relacionamento com grandes investidores: Desenvolver mecanismos para melhorar o relacionamento do governo brasileiro com grandes investidores em portfólio. Melhoria das informações sobre serviços e produtos financeiros, inclusive sobre os custos de conformidade.

    Ø Eficiência de mercado: Melhorar a eficiência na área de mercados do Banco Central, gerando sinergias e ampliando o fluxo de informações. Ø Plano de comunicação das ações do Banco Central: Melhorar a comunicação de nossas ações e ter um contato frequente com a mídia e com o público, divulgando nossas iniciativas e ações.

    Ø Transparência e comunicação: Desenvolver métodos objetivos e quantificáveis de aferir a eficácia de nossa comunicação.

     

    § Na dimensão da Educação Financeira:

     

    Ø Educação financeira: Criar um amplo programa de estímulo à educação financeira, aprofundando ações junto a agentes de mercado e a outros órgãos governamentais, e empregando cooperativas e agentes de distribuição de microcrédito como agentes de difusão.

     

    · Os objetivos de cada um desses grupos de trabalho são complexos, e para acompanharmos a evolução dessas ações o BC está criando índices gerenciais de acompanhamento que nos permitam medir e estabelecer objetivos claros para:

    § a capitalização de mercado proveniente de fontes privadas;

    § a penetração do microcrédito e do cooperativismo nas populações alvo desses programas;

    § o dispêndio em burocracia no acesso a nossos mercados;

    § o grau de intermediação financeira em nossos mercados; e

    § a inclusão de diferentes grupos demográficos em nossos mercados financeiros. ---------- Conclusões · Gostaria de finalizar ressaltando as principais mensagens:

    § Em relação à economia internacional, o cenário permanece desafiador.

    § O ambiente macroeconômico doméstico tem se caracterizado pelos seguintes fenômenos: Ø Consolidação da inflação ao redor das metas e expectativas ancoradas; Ø Recuperação gradual da economia brasileira;

     

    Ø Taxas de juros nos mínimos históricos.

     

    § O Brasil precisa prosseguir no caminho das reformas, notadamente as de natureza fiscal, e de ajustes na economia.

    § Em relação ao futuro, vamos trabalhar para: Ø Manter a inflação baixa e controlada, dando seguimento à ótima atuação da condução da política monetária, e continuar aprimorando nossos mecanismos de comunicação;

    Ø Manter o sistema financeiro sólido e eficiente, com um mercado de capitais maior, mais democrático, com a participação de mais pessoas e empresas;

    Ø Ter a autonomia do BC registrada na lei, ajudando a reduzir o risco Brasil e a aumentar o crescimento de longo prazo;

    Ø Reduzir o custo de intermediação financeira, aumentando a eficiência desse serviço e melhorando as condições de concorrência;

     

    Tornar o mercado mais aberto para todos: pequenos e grandes; nacionais e estrangeiros.

    ( da redação com informações de assessoria. Edição: Genésio Araújo Jr)

     

     

     


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