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Nordeste em Manchete
  • 07/10/2016 20h18

    ESPECIAL DE FIM DE SEMANA - Domingos Dutra afirma que Sarney "virou paturi", não está morto, e Flávio Dino foi o vitorioso das eleições no Maranhão

    Prefeito eleito de Paço do Lumiar, 5ª mais antiga cidade do Maranhão e entre as 20 mais populosos do estado, avalia as eleições e fala das prioridades de sua gestão

    (Brasília-DF, 07/10/2016) Três dias após vencer as eleições de domingo passado, 2 de outubro, o ex-deputado federal Domingo Dutra (PCdoB), novo prefeito da cidade de Paço do Lumiar, irrequieto como sempre e sem perder tempo, já estava em Brasília, nos bastidores do Congresso Nacional e da Esplanada dos Ministérios, à cata de apoio, programas e recursos para a sua gestão.

    Dutra tem pressa. O município que ele vai administrar a partir do dia 1º de janeiro de 2017 é um dos quatro que integram a Ilha (Região Metropolitana) de São Luís do Maranhão, a 5º mais antiga cidade maranhense e uma das 20 mais populosas e importantes do estado. Mas "lá, em 34 anos, tudo foi destruído", como diagnosticou o novo prefeito.

    A eleição de Dutra foi considerada uma das vitórias surpreendentes e com um peso no campo da esquerda e na nova conjuntura política do Estado do Maranhão, pós "Era Sarney".

    Desafeto antigo da família Sarney e com histórico de luta combatendo a oligarquia que mais tempo durou no Nordeste brasileiro - cinco décadas de poder no Maranhão, Dutra volta à cena política – o que ele mais gosta de fazer na vida, ao lado da Advocacia -, após ter ficado nas eleições passadas, de 2014, na 3ª suplência da sua coligação para a Câmara Federal, quando disputou ainda pelo partido Solidariedade (SD), depois de ter deixado o PT – que ele ajudou a construir -, por não concordar com atos de alguns de seus líderes.

    Em entrevista exclusiva ao jornalista Gil Maranhão, da Agência de Notícias Política Real, após suas primeiras audiências com ministros e políticos em Brasília, Dutra avaliou as eleições municipais no Maranhão, a "zebra" nordestina que pintou no pleito de São Luís e o que pretende fazer de imediato "para tirar Paço da escuridão em que se encontra" – um dos slogans da sua campanha.

     

    POLÍTICA REAL - Prefeito, o senhor enfrentou uma campanha eleitoral difícil. Como analisa a vitória em Paço do Lumiar? Era "todos contra Dutra"?

    DOMINGO DUTRA – A campanha em Paço do Lumiar tem que ser analisada pelos antropólogos, sociólogos, analistas políticos, porque nós estamos num mar de lama no País, corrupção para todo lado, parte da elite política presa, e eu ganhei a política num município importante, fazendo campanha a pé. Se sabe que a corrupção começa as campanhas eleitorais ricas. Lá eu enfrentei a máquina da Prefeitura e uma família que manda há anos 30 anos no  município, com ramificação no Poder Judiciário, com compra de votos e um verdadeiro crime organizado. Ganhei uma eleição caminhando no sol, gastei quase nada, andei cerca de 445 quilômetros a pé. Venci e venci bem. Isso é uma demonstração de que é possível fazer política correta, campanha limpa e barata, vencer sem vender o espaço público para agiotas.

    POLÍTICA REAL -  De imediato, o que Paço do Lumiar precisa? Que áreas o senhor pretende atacar logo que assumir em 1º de janeiro de 2017?

    DUTRA - Paço do Lumiar é o 5º município mais antigo do Maranhão. Hoje se for contar passa de 130 mil habitantes dentro da Região Metropolitana de São Luís. E lá, em 34 anos, tudo foi destruído. Primeira coisa que eu tenho que fazer é governador com honestidade. Segundo, governar com participação popular. Vou ressuscitar o Orçamento Participativo, que era a menina dos olhos do PT, que implantei em São Luís (como vice-prefeito) com Jackson Lago e depois esqueceram. Primeiro tenho que limpar o município. Os três primeiros meses vão ser de mutirão de limpeza, pois Paço está muito sujo. Nós vamos ter que universalizar a limpeza, que hoje é residual. Vamos ter que recuperar os equipamentos de  saúde. Lá nós não temos nenhum hospital. Governador Flávio Dino vai construir e até   julho deve ter uma Hospital-Maternidade com 50 leitos. Paço do Lumiar é o único município que ninguém nasce, só morre. As mulheres têm que parir em São Luís ou em São José de Ribamar...

    POLÍTICA REAL - ... e nas áreas da segurança pública e na questão do trânsito, que é muito complicado no município?

    DUTRA - Temos que melhorar a iluminação pública. Temos que criar a guarda municipal porque lá não tem ninguém para ajudar na segurança. Sinalizar o município, porque não temos uma sinalização, embora tenha dezena de conjuntos habitacionais, e já era necessário ter semáforos e etc. Vamos abri concurso para agente de trânsito para normalizar o trânsito. Vamos tratar da questão do abastecimento de água e esgoto, porque lá é a Odebrecht Ambiental, essa empresa responsável por este caos que o País vive. Portanto, tem muita coisa para ser feita. E não vou esperar a posse chegar, já estou me articulando para a gente ganhar tempo, porque Paço do Lumiar precisa sair a escuridão em que está metido.

    POLÍTICA REAL - Prefeito, esta eleição se apresentou atípica e surpreendente em alguns municípios brasileiros. Como o senhor analisa o pleito em São Luís, onde um candidato que aparecia nas pesquisas em 4º lugar, com 5%, chega no domingo com quase 22% e vai disputar o 2º turno?

    DUTRA - São Luís é conhecida como "Ilha Rebelde". Também alguns a chama "Ilho do Amor" para fugir da "Ilha Rebelde", que vem do tempo da ditadura. Os dois conceitos não se chocam. Você pode ser amoroso e ser rebelde. São Luís, a cada eleição, escolhe um premiado. Eu, por exemplo, fui premiado na eleição para deputado federal em 1994. Fui o mais votado candidato em São Luís, andando a pé. Depois houveram outras lideranças que foram premiadas. E dentre de um quadro de lideranças jovens, este ano, já que a Oligarquia Sarney deixou de existir, tendo um governador jovem, que estimula rebeldia, surgiu Eduardo Braide, já que a deputada federal Eliziane Gama acho que fez alguns movimentos complicados, estava no PPS, fui para REDE, depois apareceu com Alckmin em São Paulo dizendo que ia para o PSB, depois saiu da Rede e voltou para o PPS. A população estava acompanhando os movimentos. O Wellington do Curso é um deputado federal atuante, um bom militante como parlamentar, mas no desenrolar da campanha se descobriu que ele tinha muitos furos...

    POLÍTICA REAL - ...no meio de toda essa situação tem ainda o candidato e o eleitorado dos Sarney...

    DUTRA - Diante dessa situação, o eleitorado que não vota em Edivaldo (Holanda Jr., o atual prefeito) ficou procurando um candidato. A Oligarquia Sarney não morreu,  não desapareceu. Ela tem um eleitorado. O Fábio Câmara, fez um bom mandato de vereador, mesmo sendo do PMDB, partido dos Sarney, não encarnou esse eleitorado. O Eduardo Braide, então, que é um deputado estadual atuante, jovem e não tem antecedente complicado, começou a aparecer na televisão, se saiu bem no último debate, e também na TV Guará, onde ele teve cerca de 2 horas de exposição, ganhou projeção. Esse eleitorado que estava navegando solto e que talvez ia volta no Edivaldo para ganhar 1º turno, que é também eleitores de Eliziane e Wellington, quando viu o Braide disse 'opa', e aí encampou para que o processo fosse melhor apurado no 2º turno.

    POLÍTICA REAL - Ao avaliarem o resultado das eleições no estado do Maranhão, alguns dizem que o governador Flávio Dino saiu derrotado, outros, afirmam que ele foi vitorioso. Qual a sua avaliação desta que foi a primeira eleição, após a "era Sarney"?

    DUTRA - Esta é uma avaliação simplista. Primeiro que o Sarney não morreu. Ele deixou de ser "futi", com o eu o chamava e virou paturi, que é um patinho pequeno que quando você chega na beira da lagoa ele mergulha e ninguém ver mais ele. Depois que o Sergio Machado (ex-presidente da Transpetro) revelou aquilo (conversas gravadas com José Sarney, no âmbito da Operação Lava Jato) ele deixou de ser "futi" e virou paturi. Mas, o Sarneyzismo não morreu. Dizer que o Flávio foi derrotado e que o Sarney não estava (com candidatos na eleição), então, quem ganhou? O que existe na verdade é "ilhas" do Sarney que continuam vivas. Em Caxias ele conseguiu voltar. Em Imperatriz, através de um delegado que eles (os Sarney) botaram a mão, mas nem podemos dizer que é do grupo Sarney. É um delegado que, a exemplo de outros lugares do País, quem fez o discurso de anti político e que é do sistema de segurança que promete executar a penas de morte, tem um relevo...

    POLÍTICA REAL - ...então, mesmo que o sarneyzismo não esteja morto e mantém as suas "ilhas", o senhor acha que Flávio Dino foi o grande vencedor?

    DUTRA - Ele foi o grande vencedor. Primeiro, manteve Timon, que derrotou o pessoal dos Sarney; em Pinheiro derrotou Filuca, que é do núcleo Sarney; derrotou em Coroatá quem há mais de emblemático dos Sarney, que é Ricardo Murad. Ganhou em Chapadinha. Nós derrotamos o sarneyzismo em Paço do Lumiar. O PCdoB em si fez 46 prefeitos e ficou longe do PMDB. Temos prefeituras grandes como Acailândia, Barra do Corda e Paço do Lumiar. Portanto, o Flávio Dino é vitorioso, enquanto partido. E, se for juntar os aliados PSDB, PDT, PSB, PCdoB e o Solidariedade, o Flávio tem a maioria dos prefeitos eleitos em 2016.

     

    (Por Gil Maranhão – Agência de Notícias Política Real. Edição: Genésio Jr.)

     

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